segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Agora Sei Quando Começa a Velhice
Uma Reflexão Sobre o
Passado, o Futuro e a Coragem
 
 
Carlos Cardoso Aveline
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Meu pai, Carlos Lima Aveline, nasceu em 1913 e foi um ativista social desde 1941. A contar do golpe militar de 1964, ele lutou de modo não-violento pela volta à democracia. Fez isso até sua morte, dez anos mais tarde.
 
Em fevereiro de 1970, o Velho protagonizou um caso raro na história da ditadura.  Preso político condenado pela justiça militar, ele se ausentou da penitenciária em que estava, sem solicitar a aprovação das autoridades, e sem tampouco avisá-las do fato. Depois de abandonar a prisão ele passou um ano no exterior, até que a frustração policial-militar se acalmasse.
 
Viveu seus últimos dias livre, junto à natureza, usando nome falso.  O Velho morava no interior de Porto Seguro, na Bahia – na região onde o Brasil foi descoberto em abril de 1500.
 
Era o início de 1974 quando o visitei pela última vez. Ele estava revisando o passado pessoal e se preparava conscientemente para o fim. Fazia leituras teosóficas sobre o pós-morte, e partilhou uma descoberta:
 
“Agora eu sei quando começa a velhice. Começa quando ficamos pensando muito no passado.”
 
De fato, no instante preciso da morte há uma revisão profunda de toda a encarnação, e ela não necessita mais que 60 ou 90 segundos para ocorrer. Mas na etapa final da existência, o passado já começa a ser revisado e revisitado.  O grau de velhice de alguém está, pois, relacionado com uma desistência psicológica do futuro e do presente, e um apego ao passado, quando não um remoer de fatos passados.
 
A memória do passado é boa, quando vamos a ela em busca de lições para o presente e para o porvir. Uma das grandes lições do Velho para aqueles com quem conviveu foi sua capacidade de sonhar o melhor e de alimentar e manter visões generosas de tempos futuros.  Foi um otimista e pagou de bom grado o preço dos seus sonhos.
 
O passado é um reservatório de sabedoria: ele nos ajuda a viver melhor no presente e no futuro, mas não devemos viver nele como numa prisão. Nossos pais nos ensinam até muito depois de deixarem de viver fisicamente. Através deles, ficamos sabendo de erros a evitar, e de acertos que podemos confirmar e consolidar. Seja qual for nossa idade, sempre há muito por aprender: a vida toda re-começa a cada novo dia de 24 horas.

O Poder da Amizade

Todo Progresso é Resultado de Cooperação

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“De todos os bens que a sabedoria
proporciona para produzir a felicidade por
toda a vida, o maior, sem comparação, é a amizade.”
(Epicuro)
 A amizade é uma forma de afeto em que há um sereno respeito pela liberdade e pela autonomia de cada um.
Livre de apegos cegos, o sentimento de amizade não é necessariamente dirigido apenas a este ou aquele indivíduo em especial. Os sábios são amigos de todos os seres: a amizade pode ser incondicional. Por outro lado, cada amizade tem suas características específicas e possui uma capacidade própria de resistir a adversidades.  “Amigos na dificuldade, amigos de verdade”, diz o ditado popular em língua inglesa.
A verdadeira amizade surge do eu superior, ou alma imortal. Ela corresponde ao primeiro objetivo do movimento teosófico moderno, que busca ser um núcleo de fraternidade sem fronteiras. A mesma ideia está presente no budismo, no taoísmo, no hinduísmo e outras filosofias orientais e ocidentais. A prática da  amizade universal é pitagórica: Thomas Stanley, um filósofo do século 17, escreveu em sua obra sobre o ensinamento de Pitágoras:
“Há uma amizade e uma afinidade de todos por todos: entre deuses e homens, através da compaixão e do sentimento religioso; entre as diferentes doutrinas; entre a alma e o corpo (a parte racional e a parte irracional do ser humano) através da filosofia e das suas teorias; e entre os diferentes seres humanos…”[1]
A fraternidade universal é uma verdade básica que pode ser observada por todos. No mundo animal – assim como no reino humano – a regra geral é dada pela cooperação e pela amizade. A competição se dá no interior do processo de cooperação. É esta última que predomina. O escritor anarquista russo Piotr Kropotkin, um partidário da ação não-violenta, desenvolveu um cuidadoso estudo histórico mostrando de modo inegável que, ao contrário do que o darwinismo pensa, não foi a competição, mas sim a ajuda mútua, que possibilitou desde o início da vida a evolução das espécies.[2]  
Tudo o que rodeia um cidadão – mesa, computador, ônibus, roupas, ruas, prédios – é resultado da cooperação e da ajuda mútua. A civilização materialista leva seus cidadãos a esquecerem disso. Muitos pensam que a competição é central, e isto os torna infelizes. A maneira natural dos seres humanos relacionarem-se é através da amizade.  Por que motivo é tão difícil seguir essa tendência natural? O ser humano cresce na luta com os paradoxos. Um poderoso jogo de pressões e conveniências ensina a ele desde cedo que é preciso desenvolver a competição. Assim se limita a amizade como impulso natural e se dificulta a plena ajuda mútua. Uma condição básica para que possamos voltar a viver plenamente a solidariedade consciente é ser autênticos, primeiro, com nós mesmos. Aceitar os outros como eles são, estimulando o melhor neles, e ser grato à vida inclusive pelas suas lições dolorosas, são hábitos realistas que nos tornam mais sábios e mais capazes de compreender a vida e de ser amigos.
Amar é melhor do que ser amado.  Ser amigo é mais importante que ter amigos. Mas a única base sólida para a afinidade entre os seres humanos é um respeito sagrado de cada um por si mesmo. Este sentimento surge da percepção de que pertencemos à alma imortal existente em nosso próprio coração. Não temos uma alma, mas a alma nos tem.  Nosso “eu superior” é nossa origem e nosso destino, e também nossa fonte de inspiração. O respeito por si mesmo está, pois, na origem do respeito pelos outros. Voltaire, o filósofo francês do século 18, escreveu:  
“Amizade é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis, porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas, porque os maus não buscam mais que cúmplices. Os sensuais buscam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantêm relações. Os príncipes têm cortesãos. Só os virtuosos possuem amigos.”[3]  
Assim, a verdadeira amizade é inseparável da ética e do altruísmo. O significado original da palavra “filosofia” é “amor pela sabedoria”, e Voltaire afirma:
“O filósofo é um amigo da sabedoria, ou seja, da verdade. Esse duplo caráter esteve presente em todos os filósofos. Não houve nenhum na Antiguidade que não desse exemplo de virtude aos homens e lições de verdades morais.” [4]            
Sem dúvida, é comum encontrar gente que ignora qualquer diferença entre ser amigo e ser cúmplice. Deste ponto de vista, dois amigos devem apoiar um ao outro “em qualquer situação”, inclusive em ações contrárias à verdade e ao equilíbrio.
Os mafiosos criam os seus próprios “códigos de ética” e “compromissos de lealdade”. O uso da amizade em jogos de conveniências gera confusão e sofrimento. O pensador romano Cícero (106 a.C. – 43 a.C.) esclareceu esta questão há pouco mais de dois mil anos. Em seu tratado sobre a amizade, ele escreveu:
“Uma associação de pessoas sem fé nem lei não poderia se abrigar sob a desculpa da amizade (…). Essa é, portanto, a primeira lei que se deve instaurar na amizade: não pedir a nossos amigos senão coisas honestas, não prestar a nossos amigos senão serviços honestos, sem esperar que eles nos sejam pedidos; permanecer sempre confiante, banir a hesitação, ousar dar um conselho em total liberdade. No domínio da amizade, é preciso que predomine a autoridade dos amigos mais bem avisados, e que esta influência se aplique em acautelar os outros, não só com franqueza mas com suficiente energia, se a situação o exigir, para que o conselho seja posto em prática.” [5]
Amizade verdadeira é inseparável de sentimentos nobres, e Cícero explica:
“A amizade nos foi dada pela natureza como auxiliar das nossas virtudes, e não como cúmplice dos nossos vícios, para que a virtude de um, não podendo alcançar sozinha o supremo bem, o alcance apoiada na virtude do outro”. Para o filósofo romano, “há uma simpatia quase inevitável entre os bons entre si, que é o princípio da amizade instaurado pela natureza.”
Em outro trecho do seu tratado sobre a amizade, Cícero afirma:
“O amor, de onde provém a palavra amizade, é no seu primeiro fundamento simpatia recíproca (…). Na amizade nada é fingido, nada é simulado, tudo é verdadeiro e espontâneo.”[6]   
O nível da franqueza existente entre amigos é um indicador da solidez do vínculo. Quando  dois amigos usam muita cautela para não se ferirem mutuamente, a amizade pode ser superficial. Uma amizade mais profunda produz certa ausência de cuidado com as palavras, e torna possível um grau maior de espontaneidade. Às vezes isso só surge com o tempo: a confiança mútua raramente se constrói em um dia.
Toda amizade enfrenta testes, e, para Aristóteles, “somente a amizade entre pessoas boas é imune à calúnia”. Ele explica:
“É entre pessoas boas que encontramos a confiança, o sentimento de que uma nunca fará mal à outra, e tudo mais que se espera em uma amizade sincera. Nas outras espécies de amizade, todavia, nada impede o aparecimento de suspeitas”. [7]
Platão fazia deste sentimento uma virtude social e política, elemento auxiliar importante para a construção da sociedade ideal. Mas Epicuro, que viveu em um período de decadência política, via a amizade como um fim em si e dava a ela importância suprema.
Considerado um sábio por Helena Blavatsky, Epicuro tinha uma filosofia próxima à dos estoicos. Ele fundou uma comunidade em Atenas para viver com os amigos, o Jardim, e sua vida foi um exemplo de ética e autodisciplina. Para Epicuro, “de todos os bens que a sabedoria proporciona para produzir a felicidade por toda a vida, o maior, sem comparação, é a amizade”. E acrescentou: “A mesma convicção que nos inspira a confiança de que nada existe de terrível que dure para sempre, nem mesmo por muito tempo, também nos habilita a ver que dentro dos limites da vida nada aumenta tanto a nossa segurança como a amizade.” [8]
Na Bíblia, o Eclesiástico parece concordar com Epicuro. Primeiro o texto aconselha cautela (em 6: 7): “Se queres um amigo, adquire-o pela prova e não te apresses a confiar nele”. Pouco depois, o Eclesiástico acrescenta:
“Afasta-te de teus inimigos e acautela-te com teus amigos. Um amigo fiel é um poderoso refúgio; quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo vital, e os que temem o Senhor o encontrarão. Aquele que teme ao Senhor faz amigos verdadeiros, pois tal como ele é, assim é seu amigo (6:13-17).”
Amigos cometem erros. Mesmo numa amizade sincera pode ocorrer decepção. Por outro lado, devemos respeitar nossos adversários. O texto clássico de teosofia “Luz no Caminho” afirma o seguinte, sem meios termos:
“A inteligência é imparcial: ninguém é teu inimigo; ninguém é teu amigo. Todos são teus instrutores.”[9]
Carlos Castaneda ensina que o adversário é sempre um instrumento precioso do nosso crescimento, porque identifica as falhas que devemos corrigir e mostra como funcionam em nós o medo e o ódio, para que, então, estes  dois sentimentos sejam extirpados pela luz da compreensão.
Outros autores, como Plutarco, destacam que os amigos frequentemente acobertam nossas falhas, nos acostumam mal e nos levam a ficar preguiçosos, enquanto que os adversários nos mantêm alertas, nos obrigam a crescer e a superar a rotina que, de outro modo, nos engoliria. Tais testemunhos reforçam a ideia de que a verdadeira amizade é um processo livre de apego, em que o afeto não é colocado acima da sabedoria nem dos valores éticos, mas sim a serviço deles.  A verdadeira amizade é nobre, e Khalil Gibran escreveu:
“Não deve haver outra finalidade na amizade a não ser o amadurecimento do espírito. Pois o amor que procura outra coisa a não ser a revelação do seu próprio mistério não é amor, mas uma rede armada, e somente coisas inúteis são apanhadas nela.”[10]
A frase de Gibran pode ser dura, mas ela é realista. Quanto mais cedo renunciarmos à autoilusão, melhor para nós. A verdadeira amizade requer desapego.  Os “Versos de Ouro” de Pitágoras expressam a sabedoria teosófica, e neles podemos ler o seguinte sobre a combinação de firmeza com flexibilidade:
“Escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso. Aproveita seus discursos inspiradores, e aprende com os seus atos úteis e virtuosos. Mas não afasta teu amigo por um pequeno erro, porque a força da vida é limitada pela necessidade.” [11]
NOTAS:
[1] “Pythagoras, His Life and Teachings”, de Thomas Stanley, Philosophical Research Society, Califórnia, EUA, 1970.
[2] “El Apoyo Mútuo, Un Factor de la Evolución”, de Piotr Kropotkin,  Ed. Proyección, Buenos Aires, 1970, 328 pp. Há uma edição em inglês: “Mutual Aid, a factor of evolution”, Peter Kropotkin, Dover Publications Inc., Mineola, New York, 2006, 312 pp. 
[3] “Dicionário Filosófico”, Voltaire, Ed. Martin Claret, p. 23.
[4] “Dicionário Filosófico”, p. 232.
[5] “A Amizade”, de Cícero, texto incluído no volume de ensaios dele intitulado “Saber Envelhecer”, Ed. L&PM, Porto Alegre, 151 pp. Ver respectivamente as pp. 104 e 105.
[6] “A Amizade”, de Cícero, em “Saber Envelhecer”, Ed. L&PM, Porto Alegre, 151 páginas. Ver respectivamente as  pp. 91 e 131.
[7] “Ética a Nicômacos”, de Aristóteles, Ed. UnB, Brasília, terceira edição, 238 pp., ver página 157.
[8] “Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres”, Diógenes Laertios, Editora UnB, Brasília, 1977, 357 pp., ver p. 319.
[9] Veja a análise do item 10 da segunda série de regras, em “Luz no Caminho”, M. C., The Aquarian Theosophist, 2014, Portugal, tradução e notas de Carlos Cardoso Aveline, 85 pp., p. 35.
[10] “O Profeta”, Gibran Khalil Gibran, Ed. ACIGI, RJ, 89 pp., ver p. 56.
[11] A íntegra de “Os Versos de Ouro de Pitágoras” está disponível em nossos websites associados.  

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Psicanálise da Vaidade Espiritual

Como o Bom Senso Destrói a Ilusão do Orgulho
Carlos Cardoso Aveline
Brasil e a Transição Planetária 



Haverá um problema de vaidade pessoal entre os líderes teosóficos? Existe uma luta pelo poder nas associações esotéricas, especialmente nas maiores, em que a política, e a politicagem, exercem uma influência significativa?
Na maior parte dos casos, as pessoas que conhecem o movimento têm realismo suficiente para responder afirmativamente às duas perguntas acima.
Os sepulcros caiados são fáceis de encontrar. Especialmente desde o começo do século 20, muitos tiveram conversas imaginárias com mestres de sabedoria, e alguns obtiveram até mesmo um número expressivo de falsas iniciações.  Os tipos inferiores e imaginários de clarividência se espalharam entre grupos de pessoas de boa vontade que buscam pelo caminho espiritual. 
O amor neurótico e antinatural pelo poder e pelo “controle” está presente hoje na maioria das relações humanas e comunidades. Esta doença em grande parte subconsciente exerce forte influência sobre as maiores associações internacionais de teosofistas, e sobre os grupos locais ao redor do mundo. No entanto, os teosofistas têm a seu dispor instrumentos valiosos para lidar com a enfermidade e podem partilhar a cura com todos.
A ilusão do poder político e do “prestígio pessoal” está longe de ser incurável. Basta dar alguns passos com base no bom senso para que o seu processo seja compreendido e as comunidades teosóficas comecem a recuperar-se dos efeitos deste veneno sutil.
Há uma complexa rede de causas e efeitos emocionais, operando debaixo da aparência de fenômenos externos como a ambição pessoal, o orgulho “espiritualizado”, a ilusão de “parecer um santo diante dos outros” e outras moléstias semelhantes.
Uma visão psicanalítica do eu inferior pode ajudar as pessoas a verem a fragilidade pessoal sob a máscara “politicamente correta” usada por mais de um líder do movimento esotérico.
Karen Horney escreve:
“A ânsia de poder constitui, antes de mais, proteção contra a carência de defesas, a qual (…) aparece como um dos elementos básicos da angústia.” [1]
Ela acrescenta:
“…O neurótico tanto desejará subjugar os outros como tentará dominar a si próprio.”[2] Ele “experimenta premente necessidade de impressionar, ser admirado e respeitado.”[3]
Esta tendência, é claro, não se limita aos líderes de associações cujas metas são altruístas. Existe pelo menos potencialmente em cada grupo humano, sejam quais forem os seus objetivos, e em todos os seus integrantes, não só entre os líderes.  Os teosofistas, no entanto, podem ser mais conscientes do problema do que o cidadão médio.
A criação de uma personalidade autoidealizada é uma ilusão bastante frequente entre aqueles que buscam o caminho espiritual.  Muitos tentam evitar o confronto com a sua própria ignorância através do apego a formas ingênuas de devoção. Seguem variantes falsificadas de espiritualidade, cuja base é a crença falsa, e agarram-se a uma imagem artificialmente idealizada de si mesmos, como se fossem seres por completo evoluídos. Tratam de convencer a si mesmos e aos outros de que “estão acima das falhas humanas”.
Referindo-se ao tipo de pessoas cujo intenso amor ao poder e ao prestígio é na verdade uma fuga de medos subconscientes, Karen Horney escreveu:
“Com fins meramente descritivos, poder-se-ia qualificar tal pessoa de narcisista; mas, se a contemplarmos dinamicamente, o termo aparece equívoco; embora sempre preocupada em exaltar o eu, não o faz primordialmente por amor real a si própria mas para se proteger do sentimento de insignificância e diminuição – ou, em termos positivos, para restabelecer um auto-apreço mutilado.” [4]
Em filosofia esotérica, um contato ampliado com o eu superior produz a cura.
Observar o processo da dor e da autoilusão é um elemento importante para que a ignorância se transforme em sabedoria. Isso ocorre através da humilde renúncia ao egoísmo e da construção de melhores padrões energéticos, à medida que se avança pelo caminho de uma visão iluminada da vida.
Um contato verdadeiro com a sabedoria imortal faz com que o peregrino descubra a simplicidade. Ele aceita os seus erros e, com gratidão, tenta o melhor a cada novo dia.
Os ensinamentos de Helena Blavatsky e dos Mestres de Sabedoria são claros sobre este ponto. Ali onde há vaidade pessoal ou orgulho cego não existe presença divina.
O bom senso mostra o caminho, quando o modo como o peregrino sincero encara os ensinamentos teosóficos é prático, tendo como base um diálogo constante com a vida diária. Ao aprender com suas derrotas, o estudante constrói uma vitória durável.
NOTAS:
[1] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, Editorial Minotauro, Lda., Lisboa, 1961, 314pp., ver p. 187. A obra está publicada em PDF em nossos websites associados.
[2] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, p. 188.  A obra está disponível em PDF em nossos websites associados.
[3] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, p. 192. A obra está disponível em PDF em nossos websites associados.
[4] “A Personalidade Neurótica do Nosso Tempo”, Karen Horney, p. 193.
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O texto acima foi publicado inicialmente em inglês sem indicação do nome de autor na edição de abril de 2017 de “The Aquarian Theosophist”, pp. 12 a 14. Título original: “The Psychoanalysis of Theosophical Politics”. A coleção completa do “Aquarian” está disponível em nossos websites associados.


A Arte de Viver Sem Açúcar



Desenvolver o Autocontrole,
Derrotar a Gula, Respeitar a Vida

 

Carlos Cardoso Aveline

Nas Cartas dos Mahatmas, os teosofistas  encontram mais de uma  advertência  contra o uso de  açúcar.[1]
Na Introdução do livro “Açúcar, o Pior Inimigo” [2] podemos ver a seguinte citação de abertura, com palavras do filósofo Arthur Schopenhauer:
“Qualquer verdade passa por três estágios. Primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente combatida. Terceiro, é aceita como evidente por si mesma.”
Vendido como alimento delicioso, o açúcar funciona no organismo humano como um veneno: esta é, em resumo, a verdade amarga mas inquestionável de que trata o livro “Açúcar, o Pior Inimigo”.
É consenso na comunidade médica, segundo os autores, que uma dieta rica em açúcar causa grande variedade de doenças graves e torna mais curta a vida das pessoas.
A boa notícia é a seguinte: o cidadão que ama a vida pode exercer a vontade própria e levar em conta a influência da alimentação na qualidade da sua existência.
No contexto teosófico, reduzir o consumo do açúcar permite ampliar o autocontrole, fortalecer a auto-observação, reduzir a força dos impulsos instintivos no conjunto dos hábitos pessoais, e tornar mais fácil a vivência da sabedoria eterna.
A isso se acrescentam a purificação emocional trazida pelo domínio da gula e os inúmeros benefícios da redução do uso do açúcar no plano da saúde física.

Veneno Adocicado e Boa Educação

É íngreme o caminho do autocontrole.
De acordo com a lei das boas maneiras superficiais de hoje, tudo o que for importante na vida deve ser celebrado com guloseimas.
Comprar presentes com açúcar é visto como um modo “prático” de dizer às pessoas que nos importamos com elas. Aquele que sabe do perigo do açúcar e recebe como presente balas, bombons e chocolates fica constrangido ao ter que agradecer por tais presentes, quase sempre sinceros. E fica ainda mais constrangido ao colocar esses venenos no lixo, como ato de respeito à sua própria vida.
Em que, exatamente, o açúcar faz mal à saúde?
“Dentada após dentada, o açúcar provoca inflamação nas suas terminações nervosas e nos seus vasos sanguíneos”, explicam Richard Jacoby e Raquel Baldelomar. “Esta inflamação incessante promove tensões no sistema reparador natural do corpo (…).”[3]
O uso do açúcar destrói o sistema nervoso e, através dele, prejudica o organismo inteiro dos cidadãos.
É preciso reavaliar a tradicional relação entre “açúcar e afeto”.
Os presentes açucarados podem indicar uma ausência de cuidado em uma relação humana. Revelam falta de atenção na escolha de pequenas lembranças. As celebrações com bebidas alcoólicas ou guloseimas açucaradas são erros infelizes que contrariam a própria ideia de comemorar algo. As celebrações podem ser mais inteligentes.
A teosofia ensina que cada busca artificial de prazer provoca uma forma correspondente de sofrimento, sendo este último mais durável que a satisfação. O universo evolui em equilíbrio e simetria: agarrar-se com ansiedade a alegrias de curto prazo revela uma cegueira espiritual. Além disso, provoca uma frustração profunda e fabrica doenças.
Quando o indivíduo aprende a fazer o que é correto, o prazer de viver acontece sem que ele tenha que correr atrás de sensações artificiais. A felicidade surge da moderação: a tristeza é irmã do exagero. A pausa possibilita a ação correta. Uma alimentação livre da gula é fator decisivo na descoberta da felicidade. 

NOTAS:
[1] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, edição em dois volumes, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, Carta 72, volume I, p. 337 e p. 338.
[2] “Açúcar, o Pior Inimigo”, de Dr. Richard P. Jacoby e Raquel Baldelomar, Ed. Vogais, Portugal, 2015, 253 pp., ver p. 11. A obra tem como uma das suas limitações recomendar o uso de carne, mas, na abordagem do açúcar, tem grande valor.
[3] “Açúcar, o Pior Inimigo”, de Dr. Richard P. Jacoby e Raquel Baldelomar, Ed. Vogais, Portugal, 2015, 253 pp., ver p. 29.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada sem indicação do nome de autor em “O Teosofista”, maio de 2017, pp. 2-4.
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Antes do Tocando o Oculto