quinta-feira, 20 de setembro de 2018

A Música do Silêncio com mold
A Música do Silêncio

A Paz Interior Brota da Ausência de Ruído
Carlos Cardoso Aveline

Os sábios pitagóricos diziam que o universo é musical. De fato, cada som e cada silêncio parecem ter um efeito especial sobre o ser humano.  Seu significado específico pode ser libertador ou não,  trazendo alívio, paz, serenidade,  ou talvez inquietação. Por isso  o excesso de ruídos – a moderna poluição sonora – está longe de ser um problema sem importância.
Sabe-se, por exemplo, que o lixo é apenas uma matéria-prima potencialmente útil, colocada em lugar errado. Do mesmo modo, o barulho é um som, em si mesmo inofensivo,  que evoca fragmentação e desarmonia porque foi emitido no momento, no tom e no volume errados.
Os sons da natureza são, geralmente, musicais. É certo que às vezes – como durante uma tempestade – podem parecer terríveis para quem não os entende. Um cachorro doméstico, por exemplo, sempre irá para debaixo da cama, assustado, ao ouvir trovões. Mas, no conjunto, do ponto de vista sonoro, a natureza é  silenciosa e harmônica. Essa percepção se reforça quando a comparamos a uma cidade moderna. Basta imaginar, por um momento, o ruído das ondas do mar batendo numa praia deserta, o canto dos pássaros no alto das árvores, o barulho do vento provocando o farfalhar das folhas, e de outro lado o buzinar dos veículos, o ronco dos motores e o ruído das sirenes. Mesmo nossas paisagens rurais são cortadas atualmente pelo ronco de tratores e motosserras.
O ruído ameaça não só o silêncio e a musicalidade presentes na natureza, mas também a saúde do ser humano. A surdez física não é o único resultado do excesso de barulho.  Submetido à poluição sonora,  o cidadão  apresenta uma variedade de sintomas.  O sistema nervoso periférico sofre, e provoca vasoconstrição; os vasos sanguíneos se comprimem. O batimento cardíaco fica alterado. As pupilas se dilatam. Quando o problema é constante, a perda de audição aparece como uma defesa do organismo.  O organismo surdo se fecha para o meio ambiente: ele declara uma paz interior unilateral, cujo preço é a incomunicação  definitiva.  Quem hoje ouve “rock” a todo volume, em alguns anos poderá não ouvir, nem mesmo querendo, os acordes mais suaves da música clássica.
O ruído excessivo é uma espécie de exteriorização forçada da consciência, e pode ser buscado como meio para evitar o confronto com a ansiedade. É o caso de certo tipo de música.  O barulho também pode ser imposto ao homem desde fora, transformando-o em vítima de um processo de contaminação ambiental.
Todo ser humano precisa do silêncio para viver bem, e  é na ausência de barulho que ocorrem e são compreendidas as coisas mais importantes. “O silêncio não deve ser buscado como uma maneira de evitar a vida”, escreve Nicolas Caballero, das Filipinas. “Não pode ser apenas um refúgio da agitação, ou do que nós chamamos de estar cansado da vida. O silêncio é o contexto em que nós reconstruímos a interioridade e a exterioridade.” Para Caballero,  devemos aprender a  produzir silêncio em nossas vidas.[1]
O barulho e a desarmonia, de um lado, e o silêncio e o equilíbrio, de outro, podem   ocorrer simultaneamente em três níveis de  consciência: físico, emocional e mental.  Estas três instâncias formam uma tela vital única, cuja qualidade devemos aumentar de modo gradativo e constante.
“O ruído é uma desinteriorização que me separa das coisas ou das pessoas”, alerta Caballero. Ele faz com que se distorça a percepção da realidade. Investigando a fonte do ruído na mente e  na vida humana, o autor filipino chega ao que se chama de “falsa espiritualidade”: o problema da pessoa não-religiosa é, essencialmente, um problema de barulho. A pessoa barulhenta é egocêntrica, mesmo que aparentemente religiosa. O importante, neste caso, não é o mundo divino,  mas suas ideias sobre ele,  porque o egocêntrico só consegue enxergar a si mesmo. Esse egoísmo é a fonte do barulho, isto é, daquela  aparente ausência de uma musicalidade natural que deve expressar-se livremente em cada processo vivo. 
O ser egocêntrico é incapaz de ouvir, mas quer ser escutado;  e para isso ele  faz barulho,  físico e  emocional.
Alguém escreveu que a capacidade de suportar ruídos está na razão inversa da inteligência das pessoas. A afirmativa é verdadeira,   mas não deve ser superestimada.  Os idosos, por exemplo, não gostam de barulho, independentemente do seu grau maior ou menor de inteligência. É verdade, porém,  que um idoso quase sempre tem uma certa sabedoria interior.
Através do cultivo do silêncio, a pessoa desenvolve o desapego em relação ao que parece agradável ou desagradável. Inversamente, o desapego torna possível ter paz e silêncio interiores.  O tema é vasto e complexo: a  produção de silêncio e paz no mundo psicológico é um processo que precisa ser estudado, diz Caballero.
O silêncio pode mostrar-se como um vazio,  ou como uma plenitude. Nos dois casos, está ligado à observação do que é real,  a partir de uma consciência que não se abala com os altos e baixos da vida cotidiana.
 O significado da existência e o caminho do autoaperfeiçoamento acelerado são compreendidos em silêncio, com o corpo físico, a percepção mental e o centro emocional serenos, se não imóveis.
A luta entre o silêncio – onde se expressam os significados interiores – e o barulho (que provoca confusão mental) se desdobra em todos os níveis e momentos do  cotidiano. Inclusive sociologicamente.
Os veículos automotores, a construção civil, os aeroportos,  os bares noturnas e as grandes indústrias são algumas das principais fontes de poluição sonora em nossas cidades.  O processo de conscientização em  relação ao problema é complexo e não começou há pouco.
“A juventude paga para se ensurdecer nas discotecas”,  já disse décadas atrás um técnico encarregado de combater o ruído. [2]
De fato, para muitos o ruído é sinônimo de intensidade vital. Certas  motos são intencionalmente adaptadas para causar mais barulho. Uma característica da mente barulhenta é a sua necessidade de chamar a atenção dos outros, ainda que perturbando o sossego público.  Tais  exageros são relativamente raros.  Mesmo assim, a poluição sonora causa  níveis cada vez maiores de preocupação pública. Os decibelímetros – medidores de ruído – são instrumentos úteis na luta de moradores incomodados por fábricas barulhentas, ou de promotores públicos que defendem o sossego de um bairro.
Uma atitude mais vigilante tende a espalhar-se –  e é indispensável que isso ocorra;  mas ela não será  suficiente. É  recomendável atacar também a causa interna da poluição sonora. Esta causa está na mente humana,  e escapa à mera análise ecológica, econômica ou legal da questão.
Por falta de autoconhecimento, o ser humano sente necessidade de fugir do seu próprio ruído interior e psicológico. Para isso,  provoca barulhos externos que distraiam sua atenção para o mundo externo.   É o caso da dependência psicológica da televisão. Fugindo das suas próprias angústias e incertezas, rodeia-se de sons (ou imagens) que o prendem momentaneamente a este ou aquele aspecto do mundo exterior.
A verdadeira solução não é esta.
O primeiro passo é aprender a calar por completo e então ouvir a voz da consciência.  Quando o silêncio pode ser ouvido, a paz ilumina os diferentes aspectos do mundo.  A fonte da felicidade está, de um lado em obedecer  à alma presente em nosso interior, e,  de outro lado,  em perceber a alma do universo.
música das esferas,  de que falavam os pitagóricos,  é escutada  quando a nossa vida física, emocional e mental está em consonância  com o grande processo vital do planeta e do cosmo. “Ora, direis, ouvir estrelas” – escreveu Olavo Bilac, antecipando o desprezo dos céticos. E, no entanto, sabemos que  é possível ouvir as  estrelas, e que elas  não necessitam de palavras para falar.  Basta que haja silêncio mental da parte de quem escuta.
No caminho do autoconhecimento, a ausência de ruídos constitui, pois,  uma  condição essencial. Alfred  de Vigny afirmou: 
“Só o silêncio é grande: todo o resto é fraqueza”.
Helena P. Blavatsky  pensa de modo semelhante.  Ao abordar o  estudo e a percepção da sabedoria divina, ela escreveu:
“Em suas horas de meditação silenciosa, o estudante descobrirá que há um espaço de silêncio dentro de si, em que ele pode se refugiar dos pensamentos e desejos, do turbilhão dos sentidos, e das ilusões da mente. Mergulhando sua consciência profundamente em seu coração, ele pode alcançar este lugar – a princípio, somente quando ele está sozinho em silêncio e na escuridão. Mas quando a necessidade de silêncio cresce, ele o procurará mesmo no meio da batalha com o eu, e o encontrará. Ele apenas não deve abandonar seu eu exterior nem seu corpo. Deve aprender a retirar-se em sua cidadela quando a batalha se torna árdua; mas precisa fazê-lo sem perder de vista a batalha; sem se permitir fantasiar que assim ele vencerá. Essa vitória só se conquista quando tudo é silêncio fora e dentro da cidadela interior.” [3] 
NOTAS:
[1] “Silence and the Liberation of Consciousness”, por Nicolas Caballero, “Theosophical Digest”,  Philippines, quarto trimestre de 1991, pp. 95 a 123.
[2] “Revista Dirigente Municipal”, agosto 1992, pp. 42 a 44.
[3] “O Grande Paradoxo”, H. P. Blavatsky. O artigo está disponível em nossos websites associados.  
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Uma versão anterior do texto acima constitui o capítulo seis do livro “Apontando Para o Futuro – responsabilidade ética e preservação ambiental no século 21”,  de Aveline. A obra foi publicada em Porto Alegre em 1996, com 106 pp., pelas editoras FEEU e PrajnaParamita, e está esgotada.
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Sobre a missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
A Guerra Mundial em Nossas Mentes

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A Situação do Planeta
Resulta do Estado da Alma
Carlos Cardoso Aveline


Muitos se preocupam com o perigo de uma terceira guerra mundial. A verdade é que a guerra já começou há algum tempo, e ocorre como uma batalha no plano da mente.
A guerra mundial que vivemos agora é um conflito de longo prazo, não declarado, e bastante diferente dos anteriores. É a mais inteligente das guerras, sendo em grande parte sutil; é a mais tola delas, porque é desnecessária. Ela não ocorre no mundo físico: seu principal campo de batalha está localizado na alma.
Não haverá necessidade, portanto, de provocar a ruína completa da nossa civilização, se o respeito pela vida vencer na consciência humana.
Em qualquer espécie de conflito, a vitória e a derrota começam no pensamento. Para Sun Tzu, a “Lei Moral” ou vontade de vencer é fator decisivo. Ele afirma que o líder “representa as virtudes da sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e retidão”. [1]
O melhor tipo de guerra é aquele em que não é necessário combater fisicamente, e Sun Tzu explica:
“Lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar. Na arte da guerra, a melhor coisa é tomar o país inimigo totalmente e intato; danificar e destruir não é tão bom.” [2]
As boas artes marciais do Oriente têm  como base o mesmo princípio: “em primeiro lugar está a força da mente e do espírito”.
É verdade que o conflito mundial do século 21 inclui planejamento e ocupação de posições militares físicas ao redor do mundo. Ações e intenções genocidas são visíveis no plano material. No entanto, no jogo de xadrez, como na estratégia, a ameaça é frequentemente mais eficaz que a sua realização.
O mapa mundial de armas nucleares revela a existência de uma rede absurda de ameaças e contra-ameaças. A proliferação nuclear, o maior perigo para a humanidade, começa nas mentes dos estadistas e se alimenta da ingenuidade humana. A guerra se desenvolve fundamentalmente como uma batalha da imaginação.
As ideias precedem os fatos externos: a terceira guerra é uma luta pela definição das ideias dominantesque determinam o rumo da humanidade no século atual. Trata-se de uma versão atualizada, planetária e multidimensional da segunda guerra, ocorrida entre 1939 e 1945.
De um lado, temos o campo magnético dos que preservam a ética, amam a Vida e observam o princípio moral da ação moderada.
Do outro lado vemos aqueles que veneram os sentimentos destrutivos. Incapazes de amar a si mesmos, ignoram o valor do autocontrole e do respeito profundo por todos os seres.  
Há modos sutis de boicote contra a vida: sabe-se que a adoração do dinheiro e das máquinas constitui uma forma indireta de combater a energia da alma e abrir caminho para vários tipos de calamidade. A luta entre as forças da alma e as forças da não-alma desencadeia-se ao mesmo tempo na mente do indivíduo e no ethos de cada comunidade local. No Oriente Médio e em todo o mundo, nenhuma província ou país fica livre dela. Ninguém está afastado desta guerra abrangente. Na mente de todos, há um amor pela vida e outro sentimento que boicota esse amor.
A falsa religiosidade que glorifica o ódio também alimenta o antissemitismo e o amor pelo poder material. A ilusão de que dinheiro e posição social produzem felicidade estimula as causas da violência física e psicológica. As várias formas de falsidade socialmente estabelecidas possuem o mesmo efeito oculto destrutivo.
Cada cidadão precisa vencer sua própria batalha microcósmica enquanto ajuda outros a vencerem as suas.
Aquele que é suficientemente rigoroso consigo mesmo evita a autoilusão e desmascara a adoração coletiva do mundo da aparência. A vida tem seus próprios modos de derrotar a filosofia da mentira segundo a qual “a sinceridade é impossível” e “a hipocrisia constitui a lei”.  
Os amigos da verdade não precisam ser muitos, e o sábio judaico Maimônides escreveu sobre a importância do pensamento independente. 
“Quando tenho um tema difícil diante de mim”, disse ele, “quando o caminho é estreito e a única maneira de afirmar uma verdade confirmada é dizendo algo que agradará um só homem inteligente e desagradará dez mil tolos, prefiro dirigir-me a aquele homem, e ignorar a condenação da maioria.” [3]
A filosofia esotérica concorda com Maimônides neste ponto.

A Arte de Observar os Fatos

É errado olhar para o Carma – as situações da vida –  como se ele fosse imutável. O Carma é plástico na sua interação conosco. Seu significado prático e seus resultados dependem do ponto de vista desde o qual ele é vivido e observado.
A terceira guerra mundial é uma guerra pelos pontos de vista dominantes em nossa cultura. A derrota é inevitável para aqueles que olham para a vida pela lente do egoísmo, e acreditam que é ingênuo ser sincero.
Os indivíduos sem contato com suas almas são tristemente destituídos de inteligência: não podem guiar a humanidade. Os cidadãos honestos devem lutar pelo seu direito de ser sinceros, que a média dos mentirosos inveja e ataca. O peregrino consciente promove no seu próprio mundo psicológico aquilo que é correto. Ele rejeita os pensamentos e sentimentos hostis à sabedoria. 
Este conflito mundial é uma luta pela compreensão, uma guerra de princípios. A vitória da alma começa em qualquer lugar e se desdobra por toda parte um milhão de vezes. Ela ocorre cada vez que um cidadão se livra de “crenças automáticas”, abandona pontos de vista não examinados e rejeita a rotina do ódio e o hábito do desânimo. Ela emerge sempre que alguém faz um exame severo de suas próprias opiniões e escolhe o pensamento autorresponsável, colocando de lado ideias transmitidas de forma subconsciente.
É dever espiritual do cidadão ouvir a paz sagrada de sua própria alma: a suave voz do silêncio cura a dor humana. Os níveis superiores do silêncio falam do equilíbrio eterno que une todas as coisas.
Nada pode ser mais elevado que a verdade e a sinceridade.  
Nenhuma arma feita por seres humanos poderia desafiar a Lei das Leis. Tudo está em unidade no nosso planeta, e nos reinos decisivos da vida flui livremente a força do altruísmo.  
O grau de honestidade nos corações dos seres é o fator central em relação ao futuro. No capítulo 18 de Gênesis, vemos que um pequeno número de indivíduos justos teria sido suficiente para evitar uma catástrofe geológica. A mesma ideia fundamental é ensinada nos clássicos taoistas. [4] O princípio é fácil de encontrar nos ensinamentos do cristianismo, do hinduísmo, e na teosofia clássica de Helena Blavatsky.
Será que temos agora esse pequeno número necessário de indivíduos Justos? É uma questão a enfrentar. É um tema a ser trabalhado. 
Ao longo da vida do planeta, há três fatores silenciosamente interconectados, e a interação entre eles é ensinada por diferentes tradições culturais, e demonstrada pela ciência e pela sociologia:  
1) A quantidade de ética e sabedoria na alma das pessoas;
2) Os ciclos de vida geológicos e ecológicos do planeta; e
3) O grau de bem-estar da humanidade; a legitimidade e o destino de suas civilizações.
A Raja Ioga e a teosofia moderna não estão sozinhas ao dizer que a situação do planeta resulta do estado da alma. O Pirkê Avot, um clássico do judaísmo, afirma:
“O mundo existe graças a três coisas: a verdade, a justiça e a paz (…).” [5]
A presença silenciosa de almas de boa vontade entre nós tem reduzido invisivelmente o tamanho da terceira guerra mundial, evitando que assuma proporções físicas indevidas.
Essa influência ajudará a fechar a porta da destruição desnecessária, se a loucura da proliferação de armas nucleares for interrompida a tempo.
Proteger a humanidade não é uma tarefa de curto prazo. O esforço desdobra-se era após era e deve ser intensificado em algumas ocasiões.
Cada vez que o êxito tem lugar, ele ocorre primeiro no mundo interno, e só depois no mundo exterior. Emerge nos cenários visíveis da vida através do restabelecimento da Ética e da Justiça. Firmeza e moderação são sempre oportunas no processo.
NOTAS:
[1] “A Arte da Guerra”, Sun Tzu, adaptação e prefácio de James Clavell, Editora Record,  1995, 111 pp., p. 18.
[2] “A Arte da Guerra”, adaptação de James Clavell, Editora Record, p. 25.
[3] “The Guide for the Perplexed”, Moses Maimonides, Dover Publications, Inc., New York, 414 pp., ver p. 09.
[4] Veja por exemplo os capítulos 15, 19, 136 e 178, entre outros, em “Wen-tzu, a Compreensão dos Mistérios”, Ensinamentos de Lao-tzu. Tradução do chinês, Thomas Cleary. Tradução do inglês, Carlos Cardoso Aveline. Brasília, Editora Teosófica, 2002, 198 páginas.
[5] “A Ética do Sinai”, Ensinamentos dos Sábios do Talmud, Editora e Livraria Sêfer, São Paulo, 1998, ver Capítulo 1, Mishná 18, p. 64.
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O texto acima foi publicado pela primeira vez em inglês sob o título de “The World War in Our Minds” e está disponível em nossos websites associados. Pode ser visto também em  nosso blogue  no jornal israelense “The Times of Israel”.
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Sobre a necessidade de evitar conflitos desnecessários, veja em nossos websites os artigos “Brasil é Contra a Proliferação Nuclear”, de Michel Temer, e  “Old Prophecies and Atomic War”, de Carlos Cardoso Aveline.
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O grupo SerAtento oferece um estudo regular da teosofia clássica e intercultural ensinada por Helena Blavatsky (foto). 
A Lenda da Árvore de Natal

Uma Tradição Cristã Recente,
Cuja Verdadeira Origem é Pagã e Antiga


Dr. Kaygorodoff

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Nota Editorial:
O artigo a seguir foi divulgado pela primeira
vez no jornal russo “Novoye Vremya”. Ele
foi traduzido para o inglês provavelmente por
Helena P. Blavatsky, e publicado na revista
editada por ela, “Lucifer”, na edição de março
de 1891, páginas 62-63. A palavra “Lúcifer
significa “portador da luz” e é um antigo nome do
planeta Vênus, a estrela sagrada do amanhecer e do
anoitecer, a “irmã mais velha” da nossa Terra, segundo
a filosofia esotérica. Desde a idade média, o significado
da palavra tem sido distorcido por teólogos desinformados.
(Carlos Cardoso Aveline)
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O costume da árvore de Natal é uma instituição bastante recente. Surgiu em uma época tardia não só na Rússia, mas também na Alemanha, onde apareceu pela primeira vez. Da Alemanha ele se espalhou para todos os lugares, no velho mundo assim como no novo mundo. Na França, a árvore de Natal foi adotada só depois da guerra franco-alemã; após 1870, portanto. De acordo com crônicas da Prússia, o costume de iluminar a árvore de Natal como vemos hoje foi estabelecido cerca de cem anos atrás. [1]  Ele chegou à Rússia em torno de 1830, e em pouco tempo foi adotado em todo o Império e pelas classes mais ricas.
É bastante difícil estabelecer a trajetória histórica deste costume. A sua origem pertence, inegavelmente, à mais remota antiguidade.
Os pinheiros sempre foram homenageados pelas nações antigas da Europa. Como são plantas perenifólias (cujas folhas duram o ano todo), eles simbolizam a vegetação que nunca morre e são considerados sagrados para as divindades da natureza, entre elas Pã [2], Ísis e outros deuses.
De acordo com o folclore antigo, o pinheiro nasceu do corpo da ninfa [3] de nome Pitys [4] (termo grego para esta árvore); a amada dos deuses Pã e Bóreas [5].
Durante os festivais da primavera, feitos em homenagem à grande deusa da Natureza, os pinheiros eram trazidos para os templos e decorados com violetas perfumadas.
Os antigos povos nórdicos da Europa tinham uma reverência semelhante pelos pinheiros em geral, e faziam uso intenso deles durante os seus festivais. Assim, por exemplo, é bem sabido que os sacerdotes pagãos da antiga nação alemã, quando celebravam a primeira etapa do retorno do Sol para o equinócio da primavera, erguiam em suas mãos galhos de pinheiros altamente ornamentados. Isso aponta para uma forte probabilidade de que o costume agora cristão de iluminar árvores de Natal seja um eco do costume pagão de considerar o pinheiro como símbolo de um festival solar, o precursor do nascimento do Sol.
Faz sentido pensar que a sua adoção e o seu estabelecimento na Alemanha cristã deu a este costume uma nova forma – uma forma até certo ponto cristã. [6]
A partir de então surgiram novas lendas – como sempre acontece – explicando cada uma à sua própria maneira a origem do antigo hábito. Nós conhecemos uma destas lendas, profundamente poética na sua encantadora simplicidade, e que pretende explicar a origem do costume agora universalmente dominante de ornamentar árvores de Natal com velas de cera acesas.
Perto da caverna em que nasceu o Salvador do mundo havia três árvores: um pinheiro, uma oliveira e uma palmeira.
Naquela noite sagrada em que a estrela de Belém apareceu nos céus – a estrela que anunciou ao mundo, depois de tanto sofrimento, o nascimento d’Aquele que traria à humanidade a boa notícia de uma esperança abençoada – toda a natureza celebrou o fato, e conta-se que ela levou até os pés do deus-criança os seus melhores e mais sagrados  presentes.
A oliveira que crescia na entrada da caverna de Belém ofereceu, entre outros, os seus frutos dourados. A palmeira deu ao Bebê a sombra verde da sua abóbada como proteção contra o calor e as tempestades. Só o pinheiro nada tinha para oferecer. A pobre árvore mergulhou no desânimo e na dor, tentando inutilmente pensar em um presente para o Cristo-Criança.
Seus galhos se inclinavam tristemente, e a intensa agonia do seu sofrimento fez afinal com que da sua casca e dos seus ramos se derramasse uma torrente de lágrimas quentes e transparentes, cujos pingos grandes, resinosos e pastosos caíam grossos ao seu redor.
Uma estrela, cintilando em silêncio na abóbada celeste, percebeu as suas lágrimas; e, confabulando com suas colegas – um milagre aconteceu.
Hostes de estrelas caíram como em uma grande chuva de luzes sobre o pinheiro, até que começaram a cintilar e já havia uma estrela brilhando em cada ponta de ramo da árvore, desde o alto até a base.
Então, feliz e trêmulo de emoção, o pinheiro orgulhosamente ergueu os seus galhos inclinados e apareceu pela primeira vez diante do mundo surpreso, mostrando um brilho cintilante nunca visto.  
Desde aquele momento, conta a lenda, os seres humanos adotaram o hábito de ornamentar pinheiros com grande número de velas acesas na véspera de Natal.  
NOTAS:
[1] “Cem anos atrás”: em torno de 1790, portanto, já que o presente artigo foi escrito em torno de 1890. (CCA)
[2] : O deus que simboliza a Natureza, na mitologia grega e latina. (CCA)
[3] Ninfa: na mitologia grega e romana, ninfas são divindades dos rios, bosques, árvores, florestas e campos. (CCA)
[4] Pitys: Uma ninfa amada pelo deus Pan e transformada em um pinheiro. (Nota de Helena P. Blavatsky)
[5] Bóreas: deus que personifica o vento norte. (CCA)
[6] Como no caso de muitos outros costumes, e mesmo dogmas religiosos, também tomados de empréstimo e preservados sem qualquer indicação sobre sua origem. Se a fonte é agora confessada, é porque isso não pode mais ser evitado, devido às possibilidades atuais de pesquisa e descobertas. (Nota de Helena P. Blavatsky)
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O título original em inglês do artigo acima é “The Origin of the Christmas Tree”.

Antes do Tocando o Oculto